Amigos, escrevi no meu Facebook a indignação que sinto ao ver hoje o papel do advogado sendo exercido sem a maior cerimônia na defesa de criminosos, não sem levar em conta os princípios da ética, mas os benefícios das relações de poder que permitem a cobrança de honorários vultosos pagos por quem não busca seu direito, mas a livração das penalidades via relações institucionais do causídico, como no caso do contraventor CACHOEIRA e seu advogado MARCIO THOMAS BASTOS. Citei o caso do brilhante jurista HERÁCLITO FONTOURA SOBRAL PINTO, que mesmo sendo católico fervoroso e anti-comunista, defendeu Luiz Carlos Prestes da ditadura de Getulio sem contudo pedir honorários exorbitantes. Já na época sabia ele que se aceitasse que a União Soviética pagasse seus honorários poderia enriquecer. Nem Sobral cogitou esta possibilidade, nem Prestes aceitaria. Dois homens de bem, cada qual com suas normas de conduta e ética. Sobral, não encontrando suporte jurídico na legislação vigente, totalmente escrita pelos partidários de Getulio Vargas, foi buscar no art. 14 da LEI PROTEÇÃO AOS ANIMAIS o caminho para defender Prestes da masmorra. No fim da carreira, recusou convite do presidente Juscelino Kubitschek de assumir o posto de ministro do Supremo Tribunal Federal, para que não supusessem que sua defesa da posse do presidente fosse movida por interesse pessoal. Na campanha pelas diretas, em 1984, causou sensação ao participar do histórico comício da Candelária, e defender o restabelecimento das eleições diretas para a presidência da República.
Tive a alegria e oportunidade de conhecer brilhante causídico. No dia 10 de abril de 1984, designado pelo Governador Leonel Brizola como um dos coordenadores do famoso comício das DIRETAS JÁ, aos 24 anos de idade, cheguei ao palco oficial acompanhado de minha amiga XUXA, que, ainda não tão famosa, me ligou pedindo ajuda para subir no palanque. Fui buscá-la no Terminal Menezes Cortes e seguimos juntos. Tive a oportunidade de abraçar FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, com quem mais tarde vim a trabalhar, LULA, TANCREDO NEVES, FRANCO MONTORO, ULISSES GUIMARÃES, JOSÉ RICHA, LEONEL BRIZOLA, meu dileto amigo, DARCY RIBEIRO, de quem fui coordenador de campanha ao governo do Rio em 1986, TEOTONIO VILELLA e tantos outros. Foi quando avistei um senhor de terno, muito simples que aguardava sua vez de falar. Notei que possuía uma luz, que a mim pareceu ser o sol da tarde daquele 10 de Abril lhe reforçando a silhueta. Hoje sei que esta luz significava outra coisa. Perguntei a um segurança de quem se tratava e ele me disse tratar-se de SOBRAL PINTO. Abracei-o sem dizer uma palavra e ele retribuiu o abraço. À época o fiz por tratar-se de um brilhante Jurista, e eu, por ter estudado direito e conhecedor de sua história, me sentia lisonjeado por cumprimentá-lo.
Do outro lado, com a mesma humildade, encontrava-se LUIZ CARLOS PRESTES, outra figura de proa da nossa luta em beneficio dos menos favorecidos.
Ao ver hoje o que fizeram com nossa democracia defendida naquele histórico comício, sinto saudades daqueles homens de bem, que jamais se envolveriam com os CACHOEIRAS da vida.
Sinto-me lisonjeado, aos 50 anos de idade, em poder ter participado de momento tão histórico, em ter conhecido figuras tão importantes de nossa luta por um país mais justo. Mas sinto vergonha de estar aqui sem poder fazer nada, vendo figuras que também estavam lá, como LULA, usufruindo do poder construído por aqueles homens de bem e usando o resultado de sua luta em partilhas de corrupção e caixa dois, e usando das prerrogativas do poder adquirido pelas lutas destes homens admiráveis em beneficio de seus amigos e apaniguados, na maior sem cerimônia corruptiva que este pais pode constatar.
A falta de vergonha na cara de nossos políticos atuais faz com que, mesmo sendo a sexta economia do mundo, nos olhem como um país que não merece respeito. E vamos continuar sendo até que um dia os homens de bem deste país se tornem maioria.